Entrevista com Stuart Gordon

Tradução do inglês de Mário Jorge Lailla Vargas. Fonte: Site ‘Colonel´s Crypt’.

 

Stuart Gordon é um verdadeiro mestre do horror. Com uma carreira de mais de duas décadas criou alguns dos filmes de horror mais influentes e pavorosos de todos os tempos. Com seu inovador Reanimador, em 1985, se estabeleceu como um produtor que extraía novas facetas ao enredo dos filmes, do texto original de H. P. Lovecraft. Suas duas contribuições à série Mestres do Horror, Sonhos na Casa da Bruxa (Dreams in the Witch House), de H.P. Lovecraft, e O Gato Preto (The Black Cat), de Edgar Allan Poe, estão entre os mais populares da série. Foi o diretor de um dos melhores filmes lovecraftianos até agora: Dagon.

Colonel´s Crypt: Obrigado por ceder teu tempo.
Stuart Gordon: O prazer é meu.

CC: Teu filme atual, Grudado, estreou no Festival do Filme Internacional, de Toronto. O que é Grudado e o que te inspirou fazer esse teu recente filme?
SG: Se baseia na história real sobre uma mulher que, com o carro, atropelou um homem sem casa e, em vez do levar ao pronto-socorro, o deixou na garagem enquanto ele ainda estava vivo. Quando li isso no jornal não pude acreditar. Era uma história chocante, ainda mais que essa mulher trabalhou como babá voluntária na casa de um cidadão sênior. Eu queria saber o que a levou a fazer isso e o que qualquer pessoa faria, em seu lugar, com seu semelhante. Eis a questão que inspirou todo o filme.

CC: Como foi a recepção em Toronto?
SG: Fenomenal. Foi uma boa reação. A audiência realmente gostou do filme. Alguém o descreveu como num jogo de hockey, se divertindo muito, rindo e gritando ao entrar na audiência. Havia certa dificuldade de ouvir os diálogos durante os gritos.

CC: Há uma data de lançamento pra Grudado nos Estados Unidos?
SG: Não há lançamento programado, mas acho será ano que vem.

CC: Começaste como satírico, de violência estilizada, em tua carreira e agora apareceu um tom mais realisticamente brutal em teus recentes filmes como em Grudado, Edmundo, e Rei das formigas. O que provocou essa mudança? É um reflexo de teu sentimento atual?
SG: Acho que estamos nesse caminho. Infelizmente vivemos uma época muito violenta e percebemos as coisas horripilantes que as pessoas fazem às outras. Muito piores que qualquer coisa que podemos sonhar.

CC: Começaste no teatro, organizando o teatro orgânico. Qual a diferença em encenar uma peça em vez de um filme?
SG: São muito semelhantes. Em ambos os casos se tenta contar uma história. Um bom roteiro é sempre a coisa mais importante. E, claro, os atores certos. Acho que o teatro, às vezes, acaba exigindo mais porque, no final das contas, ao contrário de um filme, não podes parar e refazer tudo. Uma vez encenada uma peça, a uma audiência, se tem de atuar durante duas horas, ou mais, sem parar. Num filme se tem sorte se conseguir capturar uma cena que se descortina, quando muito, durante um minuto.

CC: Uma das primeiras peças que dirigiste, de David Mamet, foi Perversão Sexual em Chicago (Sexual Perversity in Chicago)?
SG: Uma peça antiga. Não sei se uma das primeiras. Foi a primeira produção profissional do trabalho de David Mamet. E era excitante trabalhar com ele.

CC: Inspiraste-te nos trabalhos de H.P. Lovecraft e Edgar Allan Poe. Foram a causa de teu fascínio ao gênero de horror?
SG: Um dos primeiros filmes de horror que vi foram adaptações, por Roger Corman, das obras de Poe A Queda da Casa de Usher (The Fall of the House of Usher), O Poço e o Pêndulo (The Pit and the Pendulum), e outras. Tentávamos fazer com Lovecraft o que Corman fez com Poe: Uma série de filme baseada nos textos de Lovecraft. Li Lovecraft quando adolescente e ver os filmes me fizeram ler Poe antes. Sempre me sinto bem quando encontro crianças que me dizem ter começado a ler Lovecraft após ter visto um de meus filmes.

CC: Lamento dizer que não li a história de Lovecraft.
SG: É uma história legal. Foi escrita em seis minúsculos capítulos para uma série. Creio que com continuação mensal. Cada um com gracioso vigor, muita ação e humor. Muitos atribuem o humor a mim mas, na verdade, veio de Lovecraft.

CC: Adaptaste uma de minhas histórias de Lovecraft favoritas pra Mestres do Horror: Sonhos na Casa da Bruxa.
SG: Sim. Foi uma dos primeiros contos lovecraftianos que li. Um grande conto.

CC: Como chegaste a Mestres do Horror e por que escolheste adaptar obras literários pras duas sequências?
SG: Começou como uma série de jantar à qual todos os diretores de filme de horror foram convidados. Fizéramos um documentário chamado Os Mestres do Horror, mas ninguém teve chance de conhecer os outros porque éramos todos entrevistados separadamente. Mick Garris disse que todos deveríamos ir jantar juntos pra termos chance de nos conhecermos. E era tão divertido que o encontro foi se tornando regular. Era chamada a reunião dos mestres do horror, no documentário. Mick pôde montar um projeto de televisão chamado Os Mestres do Horror, no qual cada de nós poderia dirigir um espetáculo de 1h de duração sem interferência ou censura. Sonhos na Casa da Bruxa era uma história de Lovecraft que há muito tempo eu queria fazer, mas que sempre estava tendo problema porque é muito perturbada e envolve um sacrifício de criança. Era uma muito difícil de achar financiamento, mas Os Mestres do Horror nos deram carta-branca.

CC: É um de meus episódios favoritos.
SG: Obrigado. Eu estava muito orgulhoso disso e pensei que Jeffrey estava pasmo. Ficou muito parecido com o enforcado de Edgar Allan Poe.

CC: Sobre Casa do Reanimador. Ha um rumor de que estará na próxima temporada de Os Mestres de Horror.
SG: Não creio que estará em Os Mestres do Horror.

CC: Como vês o horror nos próximos anos?
SG: Toda uma geração auto-redefiniu. O que me interessa é ver muito do que chamo filme de pestilência. Há muito cinema sobre pestilência bio-criada onde as pessoas se transformam zumbi ou como no recente filme Invasão (Invasion). Há toda uma classe de filmes de bio-terrorismo, que considero um sub-gênero. Definitivamente zumbis. Nunca houve tanto filme de zumbi.

CC: O que aguardar de Stuart Gordon?
SG: Possivelmente outra adaptação de Lovecraft. Uma história chamada A Coisa no Umbral (The Thing on the Doorstep), na qual venho trabalhando com meu sócio roteirista, Dennis Paoli, há anos. Encontramos-nos quando estávamos na escola secundária. Soubemos um do outro com 14 anos de idade. Assim fomos amigos de juventude durante a maior parte de nossas vidas. É um professor que escreve ao Hunter College.

CC: Isso também não está longe de mim.
SG: Onde vives?

CC: Em Amityville.
SG: [Risos] E estás bem?

CC: Sim!
SG: Uau! E onde teu interesse em horror começou?

CC: Sim! É engraçado porque crianças não podiam falar sobre a casa e não pude falar sobre o filme de horror que há pouco vira porque foi julgado impróprio à idade. Mas, enquanto isso líamos O Coração Delator e O Gato Preto na classe.
SG: [Risos] Eram graciosamente horripilantes pra eles.

CC: Senhor Gordon, muito obrigado.
SG: Me chames Stuart.